Meditação do dia: 09/08/2020
“Porém ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e entregou em minha mão tudo o que tem;” (Gn 39.8)
José Recusou – Isoladamente a palavra recusar, nos remete mais a um sentido negativo do que positivo. Então precisa-se atentar para o contexto e então aplicar devidamente o seu sentido. Recusar a fazer o mal é uma coisa boa; assim como recusar a fazer o bem é uma coisa ruim; em geral quando se recusa algo, o faz em detrimento de uma outra escolha. José estava servindo bem ao seu senhor e feliz com as suas realizações, quando surge um cenário novo que poderia por tudo a perder. Na dramaturgia clássica, Shakespeare descreve o desespero do Rei Ricardo III que ao perder o seu cavalo em meio a batalha, grita desesperado: “Meu reino por um cavalo!” bem antes disso, José se viu encrencado com uma mulher poderosa que lhe assediou e ele sabia que aquilo era errado, moralmente e pecado diante de Deus e de seu senhor que lhe devotava toda a confiança, sobre tudo o que possuía, ciente de que seu servo sabia a diferença entre “as coisas” e a pessoa de sua esposa. Ele não arriscou o seu reino por uma mulher! E nem era a mulher dele! Quando José recusou, ele estava fazendo uma escolha, pois sua atitude poderia render-lhe outras formas de provações, mas fazer uma nova escolha, seria muito mais viável do que não fazer escolha nenhuma e aceitar a escolha dela para ele, que de fato seria o seu fim. Isso era uma cilada de qualquer forma. Certa vez os adversário de Jesus armaram para ele uma cilada, na qual dificilmente ele escaparia de se incriminar, pensavam eles; trouxeram uma mulher flagrada em imoralidade e apresentaram a Jesus com uma acusação aparente e uma velada, de forma que atendendo a uma teria que deslizar na outra e assim seria apanhado. Ele quebraria a lei dos judeus, a tradição sagrada, ou quebrava a autoridade da lei romana e com isso incorreria em delito de qualquer forma. “E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra” (Jo 8.4-6). A sabedoria divina colocada em evidencia, fez a transferência do julgamento da mulher que eles atribuíam a Jesus, ele o passou para cada um deles. Já que todos eles sabiam o que a Lei de Moisés prescrevia, sabiam o que a lei civil romana prescrevia; assim eles poderiam fazer o trabalho com base numa autoavaliação pessoal de sua própria justiça. A recusa de José, em fazer a escolha mais simples, mais óbvia e que até lhe daria a possibilidade de apresentar desculpas esfarrapadas de sua conduta, esquivando-se das responsabilidades, alegando coação, chantagem emocional, ameaças e tantas outras. Optou por aquela que a mulher pensava que seria a improvável, pois ele incorreria em testemunhar contra ela, palavra de servo contra a palavra da senhora, com provas materiais a favor dela. José estaria morto, e para evitar a morte, as pessoas fazem “qualquer” coisa. O que aquela mulher não sabia era que José já estava morto à muito tempo. Ele não tinha mais vida própria, reputação ou direitos a defender. Nas palavra de Paulo, “Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm 6.7). Uma coisa que não pode acontecer com quem está morto, é morrer. E a fé cristã lida muito bem com a difícil arte de morrer. O escritor aos Hebreus trata desse tema com muita maestria. “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2.14,15). O império das trevas lançava mão do medo humano da morte, para mantê-los cativos e em servidão terrível. Jesus acabou com a festa deles, assumindo a vitória sobre a morte em todas as suas formas. Os ensinamentos paulinos estão repletos desse conceito libertador. “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.19,20). Escrevendo aos Filipenses, estando preso na masmorra do Palácio de César, ele declarou com muita convicção: “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1.20,21). Sabe, amados, estar vivo é um perigo! Quanto mais morto, melhor!
Senhor, obrigado por dar a sua vida em resgate da nossa e assim nos libertar do império das trevas e nos trazer para o Reino do filho do seu amor. Nossa vida está muito bem segura e protegida em tuas mãos, e vivendo pela fé, participantes da morte e ressurreição de Cristo, somos agraciados com a libertação do medo e do cativeiro que isso trás, e mantém as pessoas presas a uma vida medíocre e longe da graça e da vida abundante. Pedimos sabedoria e revelação da tua graça para compreensão verdadeira dos teus propósitos para cada um de nós. Oramos em nome de Jesus, amém.
Pr Jason