Meditação do dia: 19/04/2021
“E um ausentou-se de mim, e eu disse: Certamente foi despedaçado, e não o tenho visto até agora;” (Gn 44.28)
Despedaçado – Os antigos espartanos e alguns outros povos guerreiros da antiguidade cultivavam uma mentalidade de que morrer em batalha, no combate era morrer com dignidade. Essa história de morrer velhinho, gagá em cima de uma cama, para eles era humilhante e até ultrajante. Os antigos marinheiros também defendiam que morrer de verdade seria morrer no mar, navegando. Feitos heroicos são para heróis mesmo. Os reles mortais querem mais é não morrer mesmo e fazem de tudo, para driblar e se possível até dar o nó na morte quando ela aparecer com aquela foice enorme, toda encapuzada de preto. A literatura e os contos populares tem muitos exemplares de casos de gente que tentou dar esses golpes, deu certo, “pero no mucho!” José, desde que foi vendido como escravo para o Egito, tinha como metas de vida, sobreviver e voltar para casa e temos registros de que até aos vinte e oito anos, quando interpretou os sonhos dos servos de Faraó que foram detidos com ele, ainda era sua prioridade, pois até pediu ajuda do copeiro que seria restaurado ao cargo, para que intercedesse junto ao rei por ele. Mas foi esquecido novamente, até quando o próprio Faraó precisou de ajuda, nessa altura ele já tinha trinta anos de idade. Por treze anos ele alimentou o desejo de voltar para casa e desmascarar os irmãos e assumir sua vida e o seu lugar no clã. Até então, ou entrementes… lá nas paragens de Canaã, a história era outra desde o início. Os rapazes voltaram mais cedo que o previsto para casa, afim de “notificar” que haviam encontrado uma capa colorida e manchada de sangue, muito parecida com aquela que o pai havia presenteado a José. Certamente eles aumentaram o enredo, perguntando se Jacó havia enviado José à algum lugar para fazer alguma coisa, ou se ele havia saído sem permissão etc e tal. Com tais argumentos, facilitou a versão deles da possibilidade da morte de José e de forma violenta, por ataque de animais selvagens. Morrera despedaçado por feras, que tipo terrível de morte! Uma pessoa, duas versões de seu desaparecimento, vivo ou morto? Sem corpo não há crime, ou provas de crime, e eles tinham um álibi perfeito, desde que todos os dez sustentasse a versão e mantivessem o bico calado. Como cristãos estamos carecas de saber que nada se sustenta diante da verdade, senão pela própria verdade. Assim, o mesmo sol que amolece a cera, também endurece o barro. O mesmo tempo que corria à favor dos filhos de Jacó, distanciando os fatos e um dia a morte sepultaria as expectativas de tudo ser trazido à tona; esse mesmo tempo corria também à favor de José, que estava vivo, cada vez mais vivo e mais forte, mais poderoso e capaz de à qualquer momento se reerguer das cinzas e qual a fênix da lenda, se levantar e aparecer para uma nova vida. Mas desde a chegada dos hebreus para comprar mantimentos, o governador, que era na verdade o José sonhador e o pesadelo dos rapazes no passado, começou a colecionar informações que eram como pequenas peças de um quebra-cabeças. Eles mesmos iam fornecendo informações sem muito esforço ou pressão da parte de José. Recentemente oficializaram que José fora dado como morto, com muito pesar do pai; se já não bastasse saber era tido por morto, agora Judá acrescenta, que ele fora morto despedaçado e o corpo nunca fora encontrado, sendo eles “por acaso” acharam a capa e levaram para o pai, que a reconheceu. Do lado dos irmãos, aquele relato era verdadeiro, ainda que só para Benjamim e o pai, mas eles, os demais, quase acreditavam, e como nunca foram confrontados, não tinha como não se tornar a verdade deles mesmos. Do lado de José, ou do governador, era chocante ouvir aquilo, que tipo de morte trágica para um garoto de dezessete anos, que tinha um futuro brilhante pela frente. Meus queridos, tem um fundo de verdade nas palavras de Judá no seu relato suplicante ao governador. Houve sim, um despedaçamento de gente; mas as vítimas foram eles na verdade. As feridas, os arranhões, as cicatrizes, as deficiências decorrentes, a tristeza de alma e as dores profundas, existiam neles e duravam aquele tempo todo. José, que fora a vítima, sofrera muito, foi dolorido, humilhante e humilhado e sem nenhuma forma de explicação ou justificativa; por mais que ele pensasse, deduzindo hipóteses, não chegava a nenhuma conclusão definitiva. Ele seguiu sua vida e do restou dela, ele reconstruiu-se e encontrou o seu propósito e a interpretação para os sonhos, incluindo os seus e agora podia fazer algo de fato e de direito para concretizar o que Deus lhe mostrara sobre ele, sua família e seus irmãos, sobre se tornarem uma grande nação e quem seria o primeiro grande líder na preparação. Não perguntemos “por quê?” mas “para quê?” as coisas estão acontecendo conosco ou ao nosso redor!
Senhor, nos consagramos à ti e à tua vontade, que santa, justa, boa, perfeita e agradável para com todos nós. Podemos confiar na tua capacidade de gerenciar todas as coisas e nada irá faltar ou passar do ponto certo. Deus é poderoso e tremendo nos seus feitos e é nosso escudo e fortaleza nas horas de angústias, nos vales de sombra da morte e duras provas da vida. Podemos, sim, todas as coisas naquele que nos fortalece; onde encontramos abrigo, alimento, proteção amor sem medidas e sem condições. Agradecemos o seu amor e sua graça, em nome de Jesus, amém.
Pr Jason