Descalço

Meditação do dia: 23/12/2021

“E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.” (Êx 3.4)

Descalço – Quando criança ouvi diversas vezes o adágio popular que dizia que “Cada terra tem seu uso como cada roca tem seu fuso.” Claro, não fazia muito sentido e só com a maturidade e a convivência com diversidades bem diferentes das minhas habituais é que fui percebendo costumes, hábitos e modos de se ver ou fazer as coisas, isso varia de povo para povo e de cultura para cultura, mesmo dentro de um mesmo país, como o nosso Brasil, com um regionalismo forte e tradições bem enraizadas no povo. Quando lemos as Sagradas Escrituras, encontramos a vida das pessoas daqueles tempos, tal qual ela era, com seus costumes, culturas e hábitos, que às vezes eles mesmos tinham que aprender e conviver. Podemos pensar por exemplo em Jacó, que ao chegar em Hará, para morar com o tio, ficou tremendamente decepcionado ao ser enganado por este na entrega de sua esposa, e Labão justificou como sendo um costume daquele local. “E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste? E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita” (Gn 29.25,26). Assim como em boa parte do mundo, o aperto de mãos serve tanto como cumprimento ou saudação, como também para confirmação de acordos ou compromissos comerciais – o aperto de mão sela o acordo e negar a apertar a mão do outro é rejeitar a proposta ou não se comprometer a honrar o que está sendo acordo. Apertar a mão e não honrar o compromisso é desonroso e considerado uma grave falta de caráter. Tirar os sapatos ou sandálias, também fazia parte de costumes antigos e em algumas situações estava ligado a realizações de contratos ou compromissos de responsabilidades. Entre os israelitas, a chamada lei do levirato, seguia acompanhado do hábito tirar sapato. “Porém, se o homem não quiser tomar sua cunhada, esta subirá à porta dos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer cumprir para comigo o dever de cunhado. Então os anciãos da sua cidade o chamarão, e com ele falarão; e, se ele persistir, e disser: Não quero tomá-la; Então sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará o sapato do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não edificar a casa de seu irmão; E o seu nome se chamará em Israel: A casa do descalçado” (Dt 25.7-10). Poderia também ser utilizado em contratos de compra e vendo ou até renuncia de direitos, como podemos ver nos tempos dos Juízes, com o rapaz que iria se casar com Rute. “Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto a remissão e permuta, para confirmar todo o negócio; o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel. Disse, pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato (Rt 4.7,8). No texto de nossa meditação de hoje, foi um ritual diferente, exigido pela santidade de Deus que tornara santo o lugar onde Moisés estava e ele precisava estar ciente disso e respeitar reverentemente o Deus a quem ele iria servir e se comprometer dali em diante. Não se pode deixar de ver que aqui também houve um compromisso entre as duas partes, pois foi para isso que Deus lhe aparecera e a consagração seria a resposta mais adequada. Gesto semelhante podemos ver também, com Josué, o sucessor de Moisés, antes de entrar na posse da terra e de confrontar Jericó. “Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim” (Js 5.15). Particularmente, gosto de pensar também no sentido de humildade e submissão, porque ao descalçar os pés, ficamos vulneráveis e sem condições de nos afastarmos muito. Então tem o sentido de rendição e permanecer ali para ser ministrado e aprender reverentemente diante de Deus. Isso não é canônico, mas faz sentido, se a atitude do coração for condizente na obediência.

Senhor, obrigado pela tua presença santa, que além de nos abençoar e nos privilegiar com uma vocação, ainda somos instados a te reverenciar humildemente, o que é justo e reto diante de ti. Obrigado por lições tão simples, mas profundas e que qualquer um pode entender. Agradecemos em nome de Jesus, amém.

Pr Jason

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